Mais uma vez. Pensei em falar alguma
coisa e, então, não falei nada. Escrevi. Não há nada demais nisso, estranho
seria se eu falasse. Acho que as coisas
têm que ser de um jeito, mas sei que nem todos têm o mesmo achismo que eu, por
isso, tudo bem. Para se fazer café com leite são necessárias as medidas exatas,
ou não tão exatas assim, do café e do leite.
“Você dá o amor que você recebe”. Nada
mais ancestral e mentiroso que isso. Tenho muitas pessoas ao meu redor, algumas
eu vou mencionar aqui, outras não. Mas em hipótese alguma pensem que as pessoas
não mencionadas são menos importantes do que as quais eu usarei como exemplo,
porque você estará cometendo um grande erro.
Eu tenho um namorado, e também uma mãe
e um irmão. Devo confessar que o amor que recebo de qualquer um deles não é o
mesmo amor que eu passo para o outro. Não seria justo. Porque a minha mãe não
me passa amor, vai ver ela até envia, mas como o sinal é fraco ele nem se quer
chega. E meu irmão tem apenas dois anos. E a meu ver, ele ainda não sabe o que
é amor (isso me faz levantar outra questão: qual é a idade necessária para
entender de amor?) então como poderia passá-lo para mim? Mas eu sinto uma
felicidade tão grande quando ele sorri pra mim, e isso é amor. E meu namorado,
bom, muitos vão ignorar essa parte porque “namorado-não-é-importante”. Qual é?
Quem foi o imbecil que inventou uma marmelada dessa? Se a pessoa não é
importante pra você, então, porque diabos você estaria com ela? Ok, eu supero a
imbecilidade do mundo. Voltando ao assunto. Ele me dá amor, muito amor. Chego a
pensar que nunca recebi esse sentimento em uma escala tão grande. Mas, eu me
pergunto todos os dias: por que eu? Existem mais de sete bilhões de pessoas no
mundo e ele escolhe justo a problemática com sentimentos instáveis aqui, pra
dar amor. Ele deve ter algum tipo de problema no cérebro, mas eu o amo mesmo
assim. E amo muito.
Esse não é pra ser um daqueles textos
que o mundo todo gostaria de ler sobre uma menina que se mutila por um garoto
bonitão que não dá a mínima atenção pra ela. Com certeza não! Só queria que as
pessoas entendessem o que é amor pra mim.
Quando eu era pequena, fui com minha
madrinha e minha prima na casa de uma senhorinha que era benzedeira. Ela benzeu
a minha prima e não me benzeu, eu não quis, eu tinha medo. E ela não ficou
brava comigo por isso. Ela colocou café na mesa e pão com doce de leite, e eu
não comi nada, não sei dizer ao certo se era porque eu estava com vergonha de
comer ou vergonha de comer a comida dela. Mas isso não importa. Cheguei na casa
da minha vó pedindo pelo pãozinho com doce de leite e meu avô, depois de
reclamar um pouco, foi até a panificadora e comprou pra mim. Isso é amor.
Desde que eu me lembro, todos os anos,
no dia do meu aniversário um tio meu, liga pra mim. Mesmo que eu não ligue pra
ele no aniversario dele, ele não deixa de me desejar todo o amor e felicidade
do mundo só porque eu não faço isso pra ele. Isso é amor.
Houve um dia no colégio, provavelmente
maio ou junho de 2012, que eu estava um pouco triste, mas a tristeza era minha
e eu não precisava deixar ninguém perceber. Mas chega uma hora que você não agüenta
mais e a dor precisa sair de você de alguma forma, então você chora. E eu
lembro de estar com duas amigas e um amigo, e eles pararam o que estavam
fazendo e vieram me dizer que eu não precisava ficar triste sozinha, aí eles me
deram um abraço e foi como se cada um estivesse doando lagrimas pra mim, talvez
para repor as centenas que derramei. Isso é amor.
Eu e meu namorado sempre fomos amigos,
mas entre essa amizade toda havia umas briguinhas e umas brigonas. Quando ele
estudava comigo, ele sempre me acompanhava até a casa da minha vó, mesmo que ainda
não estivéssemos juntos, digo como namorado e namorada. E um dia eu estava bem
nervosa, talvez fosse pela TPM ou pelas coisas indesejáveis que aconteciam, não
importa. Mas eu estava nervosa e ele também (nada natural se explica o
nervosismo de um homem, uma vez que este não sofre de TPM). Lembro de ele ter
falado alguma coisa que eu não gostei, então eu sai andando na frente dele, bem
rápido, como quem queria dizer “eu consigo chegar em casa sozinha”. Ele podia
ter atravessado pro outro lado da rua, ter pego um ônibus e ido pra sua casa
bem rapidinho, mas ele não fez isso. Ele podia ter pedido desculpa mesmo que
não tivesse um porquê, mas ele também não fez isso. O que ele fez foi me seguir
até a casa da minha avó. Isso é amor.
Gosto muito de falar dele, então eu vou
escrever mais um paragrafozinho. Como éramos amigos, sempre teve todo um
carinho especial, antes de amigo, agora de namorado. As coisas não mudaram
visualmente, mas perceptivelmente. Então eu resolvi dizer a ele que sentia
falta de algumas coisas de antes. Disse a ele que sentia falta de quando ele
pegava na mão pra atravessar a rua, e então ele me disse que ainda faz isso, e
eu retruquei dizendo que não era a mesma coisa. Então ele se explicou “eu
pegava na sua mão pra atravessar a rua porque só assim eu podia me sentir seu
namorado por um tempo”. E foi a coisa mais linda que eu já li. Isso é amor.
Amor é tudo isso. É o pão com doce de
leite, é a ligação no aniversário, é o abraço dos amigos, é acompanhar até em
casa mesmo que a vontade seja de mandar ir a merda, é pegar na mão pra
atravessar a rua.

