Acordei com
dor de cabeça, e mais uma vez olhei para o celular e nada de uma mensagem de
bom dia, tem sido assim nos últimos onze dias, nem uma mensagem, nem se quer um
bom dia. Desde aquele dia no parque que não nos vemos ou nos falamos, e o pior
disso tudo é que não houve nada, não houve discussão, nem briga, nada. Ele
simplesmente parou de me responder, de me atender, de me ver. Como se a bateria
dele estivesse acabado pra mim, agora era só viver, e viver sem mim. Era o que
parecia. Mas eu não aguento ficar sem falar com ele por muito tempo, confesso
que não sei de onde tirei forças para ficar onze dias sem nenhuma noticia. Não
sei mesmo. Mas hoje resolvi ligar, ligar de um número diferente, porque, vai
que ele atende.
O telefone
chamou uma, duas vezes e logo ele atendeu. Então eu respirei fundo e disse:
- Não fala
nada, só escuta. Você que sabe, não quero discutir, mas se você for embora se
cuida ta bem? Não vai ficar até tarde na rua, não vai ficar bebendo com os seus
amigos ta? Eu não ligo que você vá embora, só que vá embora pra sempre ok? Vai
embora, e leva com você o meu coração porque eu vou continuar gostando de você
mesmo depois de você partir, leva com você também o meu cérebro, porque vou
pensar em você a cada segundo depois que você pegar e ir embora na sua moto, só
toma cuidado ta bem? Coloca o capacete certinho, e baixa aquele vidrinho sabe? É
esse mesmo que eu não sei o nome. Não leva muita coisa, pode ser perigoso. Não
atravesse no sinal vermelho, e não ande acima de 80 km/h ok? Eu sei que você
não ousaria partir sem levar um casaco não é? Também não iria querer ir embora
sem levar seu dinheiro, e aposto que não ia sair andando de moto por aí sem ao
menos colocar álcool não é? Pra você ir embora é assim, simples, levando só o
necessário, e é ai que eu me pergunto, porque não posso ser necessária pra
você? Quero ser tão necessária quando o seu casaco, o seu dinheiro, a sua moto.
Quero que eu seja uma coisa que você se obrigue a levar junto quando for embora.
Então, se cuida viu, e se quiser me leva junto. Já que mesmo levando meu
coração e meu cérebro eu vou dar um jeito de gostar e de pensar em você todos
os dias.
Já estava
chorando, e nada de ele responder, no começo pensei que ele pudesse estar
chorando também, mas aí lembrei, ele era menino e meninos não choram assim, por
nada. Pensei em desligar, já que talvez ele não tenha dado a mínima pro que eu
tinha falado. Quando escuto a sua respiração no outro lado da linha.
- Hey? Você
me fez chorar. Você também me fez rir, porque nunca que o álcool da minha moto
seria mais importante que você, até porque ela é movida a gasolina. Mas, se
quer saber, eu ousaria partir sem o meu casaco porque aí você ia ter que ir
junto pra me esquentar. Eu iria embora sem o meu dinheiro porque aí você ia
junto só pra me emprestar. Se toca, eu não vou embora sem você. E se eu me
afastei por esse tempo, era só pra te testar, e pra ver quanto tempo você ia
aguenta, e olha, você demorou, e como demorou. Achei que já ia vir até em casa
no terceiro dia, mas é, você não veio. Eu não ligo, porque é claro que a culpa
não é sua.
- Então,
está tudo bem entre nós?
- Não, não.
Eu te falei tudo isso porque o seu madruga me mandou.
- A mesma
ironia de sempre, posso ver que está tudo bem.
- Você sabe
que eu só quero ter um final feliz do seu lado.
- Você é
burro? Presta atenção no que você fala, cara.
- O que
foi?
- É
realmente isso que você quer? Você quer sofrer? Você quer que tentem acabar com
o nosso “amor” milhares de vezes? Você quer que eu me apaixone por outro menino
pra depois perceber que você é o amor da minha vida? É isso que você quer? Sabe
não tem como um final ser feliz, por isso que eu não quero que eu e você
tenhamos um. E para de ser burro, por favor, não dá mais pra aguentar
tanta burrice.
-
Desculpa... Então, eu queria que fosse como os filmes, tá bom pra você?
- Não,
acaba rápido. Semanas e semanas tentando construir pra depois de duas horas
acabar, não mesmo.
-
Im-pli-can-te.
- Prove do próprio
veneno.
- Ok
senhorita.
Desliguei o
telefone e fui deitar, ele provavelmente foi passar mais uma fase no vídeo game,
mas tudo bem. Eu sei que o problema sou eu, já que eu sempre acho que tem
alguma coisa errada, e na verdade, sempre tem. Por menor que seja sempre tem. E
eu sempre vou estar preocupada, pode estar tudo certo, mas para mim, alguma
coisa vai dar errado nos próximos dez minutos. Às vezes acho que devo ouvir meu
avô e ir me tratar, porque eu realmente estou precisando.
Fiquei mais um tempo na cama, até minha
mãe bater na porta do quarto.
- Está
acordada?
- Estou.
- O Pietro
está aqui.
- Como
assim ele está aqui? Ele não me avisou, há quanto tempo ele está aqui?
- Faz uns
quarenta minutos, fizemos um bolo.
- Fizeram
um bolo? Como assim um bolo?
- Sim, sabe
o que é bolo? Aquele que vai farinha, ovo, leite, margarina..
- Eu sei o
que é um bolo, mãe.
- Então,
nós fizemos. Venha comer.
- Só vou
trocar de roupa e já desço.
Sim, eu estou trocando de roupa pra ir
comer um bolo que minha mãe fez com o menino mais retardado do mundo. É, tenho
que me conformar, minha mãe é completamente louca.
- Bom dia dorminhoca.
- Olha quem fala.
- Senta aqui do meu lado, pra provar do meu maravilhoso bolo.
- Maravilhoso? Ta bom.
- Vai desdenhando vai.
- Coloca um pedaço aí pra mim, por favor.
- Sim, madame.
Ele colocou um pedaço um tanto grande pra mim, provei o bolo, e está realmente maravilhoso, podia jurar que foi feito apenas pela minha mãe, mas ela não mentiria sobre um bolo, ou mentiria? Comi todo o pedaço que ele colocou pra mim, estava pronta pra pedir mais um quando ele me veio com a pergunta que todos os cozinheiros fazem:
- Ficou bom?
- Olha, dá pra engolir.
- Quer mais?
- Aham
- To vendo que dá pra engolir mesmo, até dois pedaços. - ele riu.
- Só estou comendo porque sinto fome de manhã.
- É claro, eu sei disso.
Pietro colocou mais um pedaço pra mim, e outro para ele. Só que em vez de comer o bolo ele preferiu jogar na minha cara, literalmente. Meu rosto ficou grudento com toda aquela cobertura de chocolate. Ele riu, minha mãe riu e até mesmo eu, depois de onze dias com a cara emburrada, sorri.

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