Nobody said it was easy

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013



Acordei com dor de cabeça, e mais uma vez olhei para o celular e nada de uma mensagem de bom dia, tem sido assim nos últimos onze dias, nem uma mensagem, nem se quer um bom dia. Desde aquele dia no parque que não nos vemos ou nos falamos, e o pior disso tudo é que não houve nada, não houve discussão, nem briga, nada. Ele simplesmente parou de me responder, de me atender, de me ver. Como se a bateria dele estivesse acabado pra mim, agora era só viver, e viver sem mim. Era o que parecia. Mas eu não aguento ficar sem falar com ele por muito tempo, confesso que não sei de onde tirei forças para ficar onze dias sem nenhuma noticia. Não sei mesmo. Mas hoje resolvi ligar, ligar de um número diferente, porque, vai que ele atende.
O telefone chamou uma, duas vezes e logo ele atendeu. Então eu respirei fundo e disse:
- Não fala nada, só escuta. Você que sabe, não quero discutir, mas se você for embora se cuida ta bem? Não vai ficar até tarde na rua, não vai ficar bebendo com os seus amigos ta? Eu não ligo que você vá embora, só que vá embora pra sempre ok? Vai embora, e leva com você o meu coração porque eu vou continuar gostando de você mesmo depois de você partir, leva com você também o meu cérebro, porque vou pensar em você a cada segundo depois que você pegar e ir embora na sua moto, só toma cuidado ta bem? Coloca o capacete certinho, e baixa aquele vidrinho sabe? É esse mesmo que eu não sei o nome. Não leva muita coisa, pode ser perigoso. Não atravesse no sinal vermelho, e não ande acima de 80 km/h ok? Eu sei que você não ousaria partir sem levar um casaco não é? Também não iria querer ir embora sem levar seu dinheiro, e aposto que não ia sair andando de moto por aí sem ao menos colocar álcool não é? Pra você ir embora é assim, simples, levando só o necessário, e é ai que eu me pergunto, porque não posso ser necessária pra você? Quero ser tão necessária quando o seu casaco, o seu dinheiro, a sua moto. Quero que eu seja uma coisa que você se obrigue a levar junto quando for embora. Então, se cuida viu, e se quiser me leva junto. Já que mesmo levando meu coração e meu cérebro eu vou dar um jeito de gostar e de pensar em você todos os dias.
Já estava chorando, e nada de ele responder, no começo pensei que ele pudesse estar chorando também, mas aí lembrei, ele era menino e meninos não choram assim, por nada. Pensei em desligar, já que talvez ele não tenha dado a mínima pro que eu tinha falado. Quando escuto a sua respiração no outro lado da linha.
- Hey? Você me fez chorar. Você também me fez rir, porque nunca que o álcool da minha moto seria mais importante que você, até porque ela é movida a gasolina. Mas, se quer saber, eu ousaria partir sem o meu casaco porque aí você ia ter que ir junto pra me esquentar. Eu iria embora sem o meu dinheiro porque aí você ia junto só pra me emprestar. Se toca, eu não vou embora sem você. E se eu me afastei por esse tempo, era só pra te testar, e pra ver quanto tempo você ia aguenta, e olha, você demorou, e como demorou. Achei que já ia vir até em casa no terceiro dia, mas é, você não veio. Eu não ligo, porque é claro que a culpa não é sua.
- Então, está tudo bem entre nós?
- Não, não. Eu te falei tudo isso porque o seu madruga me mandou.
- A mesma ironia de sempre, posso ver que está tudo bem.
- Você sabe que eu só quero ter um final feliz do seu lado.
- Você é burro? Presta atenção no que você fala, cara.
- O que foi?
-  É realmente isso que você quer? Você quer sofrer? Você quer que tentem acabar com o nosso “amor” milhares de vezes? Você quer que eu me apaixone por outro menino pra depois perceber que você é o amor da minha vida? É isso que você quer? Sabe não tem como um final ser feliz, por isso que eu não quero que eu e você tenhamos um. E para de ser burro, por favor, não dá mais pra aguentar tanta burrice.
- Desculpa... Então, eu queria que fosse como os filmes, tá bom pra você?
- Não, acaba rápido. Semanas e semanas tentando construir pra depois de duas horas acabar, não mesmo.
- Im-pli-can-te.
- Prove do próprio veneno.
- Ok senhorita.
Desliguei o telefone e fui deitar, ele provavelmente foi passar mais uma fase no vídeo game, mas tudo bem. Eu sei que o problema sou eu, já que eu sempre acho que tem alguma coisa errada, e na verdade, sempre tem. Por menor que seja sempre tem. E eu sempre vou estar preocupada, pode estar tudo certo, mas para mim, alguma coisa vai dar errado nos próximos dez minutos. Às vezes acho que devo ouvir meu avô e ir me tratar, porque eu realmente estou precisando.
         Fiquei mais um tempo na cama, até minha mãe bater na porta do quarto.
- Está acordada?
- Estou.
- O Pietro está aqui.
- Como assim ele está aqui? Ele não me avisou, há quanto tempo ele está aqui?
- Faz uns quarenta minutos, fizemos um bolo.
- Fizeram um bolo? Como assim um bolo?
- Sim, sabe o que é bolo? Aquele que vai farinha, ovo, leite, margarina..
- Eu sei o que é um bolo, mãe.
- Então, nós fizemos. Venha comer.
- Só vou trocar de roupa e já desço.
         Sim, eu estou trocando de roupa pra ir comer um bolo que minha mãe fez com o menino mais retardado do mundo. É, tenho que me conformar, minha mãe é completamente louca.

- Bom dia dorminhoca. 
- Olha quem fala. 
- Senta aqui do meu lado, pra provar do meu maravilhoso bolo. 
- Maravilhoso? Ta bom.
- Vai desdenhando vai. 
- Coloca um pedaço aí pra mim, por favor. 
- Sim, madame.

Ele colocou um pedaço um tanto grande pra mim, provei o bolo, e está realmente maravilhoso, podia jurar que foi feito apenas pela minha mãe, mas ela não mentiria sobre um bolo, ou mentiria? Comi todo o pedaço que ele colocou pra mim, estava pronta pra pedir mais um quando ele me veio com a pergunta que todos os cozinheiros fazem: 

- Ficou bom?
- Olha, dá pra engolir. 
- Quer mais? 
- Aham
- To vendo que dá pra engolir mesmo, até dois pedaços. - ele riu.
- Só estou comendo porque sinto fome de manhã. 
- É claro, eu sei disso. 

Pietro colocou mais um pedaço pra mim, e outro para ele. Só que em vez de comer o bolo ele preferiu jogar na minha cara, literalmente. Meu rosto ficou grudento com toda aquela cobertura de chocolate. Ele riu, minha mãe riu e até mesmo eu, depois de onze dias com a cara emburrada, sorri. 

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