Fico pensando quem em sã consciência me liga às nove da manhã pra me acordar e pedir pra ir caminhar no parque. É, ele mesmo, Pietro.
- Bom dia minha guria.
- Bom dia? Como você espera que meu dia seja bom se você está me acordando às nove da manhã?
- Acho que esqueceu seu bom humor na cama.
- Acho que não, já que estou deitada nela.
- Então o seu humor foi embora junto com sua empolgação.
- Pode ser. O que quer?
- Quero que vá ao parque comigo. Vou passar aí daqui uma hora, ok?
- Fazer o que no parque? Daqui uma hora, tá maluco é? Eu não levantei da cama ainda.
- Bom, então levante. Sabe, eu tenho um cachorro o Jack, e você também deve saber que ele é a coisa que eu mais amo no mundo e depois dele vem bife com batata frita, e ele está meio sedentário então vou levar ele pra passear no parque, e você vai junto, porque quero um animal pra fazer companhia ao Jack.
- Ah, engraçadinho. Jack já vai ter uma companhia de um animal, irracional é claro, que no caso é você. Mas já que insiste tanto por uma companhia de um animal racional, eu vou. Beijo, até mais tarde.
- Tchau.
Nem acredito que saí da minha cama às nove da manhã pra me arrumar pra ir ao parque com dois animais. Realmente, eu tenho uma vaga garantida no céu.
Prendi meu cabelo em um coque meio bagunçado e coloquei um shorts qualquer com uma camisa branca e um tênis. Estou ótima. Nunca fui de me arrumar demais pra ir em lugares comuns, festas e afins são outro assunto mas não ficaria horas e horas me arrumando pra ir ao parque da cidade, não mesmo. Tomei café e fui esperar Pietro lá embaixo.
- Oi, senhora mau humorada.
- Oi, palhaço.
- Vamos?
- Só estava esperando você chegar.
É claro que eu não estou acostumada a andar, quanto mais no ritmo acelerado de um golden retriver. Após os primeiros trinta minutos de caminha eu já estava a ponto de me jogar no rio.
- Estou com sede, quero água – eu disse.
- Problema de quem?
- Meu Deus, deixou o cavalheirismo em casa foi?
- Não, não. Deixei no útero da minha mãe mesmo.
- Engraçado, mas ainda estou com sede.
- Acho que você não entendeu não é? Eu não tenho nada a ver com a sua sede.
- Ta bom, seu grosso. Vou achar a água sozinha.
Nisso ele tira uma garrafa de água da bolsa e dá uns três ou quatro goles e diz: “como essa água está boa!”
- Seu idiota, negar água é pecado, sabia?
- Não sabia não, tá escrito aonde? E não te neguei água, porque você nem se quer pediu.
- Precisa estar escrito pra ser verdade? E me dá logo um gole.
- Pega aí – ele jogou a garrafa pra mim, e é claro que eu a deixei cair no chão, ele riu – Reflexo ótimo hein?
- Para, o senhor perfeição.
- Tudo bem, me desculpe.
Pietro se descuidou e largou a coleira de Jack, logo o cachorro saiu correndo atrás dos pombos e derrubou uma senhora no chão.
- É melhor você começar a correr – disse ele.
- Por que? A gente tem que levantar a coitada da mulher.
- Acredite em mim, correr é melhor.
Pietro começou a correr e eu fiquei parada sem saber se corria ou se ia ajudar a mulher, de repente só escuto a senhora gritando “seu filho de uma égua é a terceira vez essa semana”. Comecei a rir, o que ele pensou que fosse acontecer? Que a senhora ia pegar sua bengala e sair correndo atrás dele pra bater nele como acontece nos desenhos? Acredite, foi isso mesmo que aconteceu. É claro que a senhora não alcançou ele mais saiu correndo atrás igual uma maluca. Eu prendi a coleira de novo no Jack e fui caminhando com ele bem disfarçadamente tentando não ser o foco das atenções. Encontrei Pietro na próxima esquina depois do parque. Estava lá morrendo de falta de ar.
- Preciso muito de água, mas a senhorita vez o favor de tomar tudo. – disse ele.
- Problema de quem mesmo? – nós dois rimos.

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